Se o grito de uma criança é capaz de fazer arderem os ouvidos, imagine um coro de 18 mil, revezando entre berros e lágrimas. Foi o que aconteceu na noite deste sábado (29) na Arena Anhembi, em São Paulo, onde foi realizada a segunda edição do Z Festival, voltado ao público teen.
E os grandes responsáveis por tamanha instabilidade emocional na garotada foram Demi Lovato, McFly e The Wanted, principais nomes do line-up, que contou com outras cinco atrações: Big Time Rush, Hot Chelle Rae, Yellowcard, Rock Bones e DJ Torrada, o único brasileiro escalado.
Todos que subiram aos palcos (foram montados dois, o Zig e o Zag, para evitar atrasos nas apresentações) cumpriram bem os seus papéis, entoando os hits que justificaram suas escalações para o evento. Mesmo com uma desafinada aqui, uma ajuda do autotune ali e o socorro dos backing vocals acolá, o brilho nos olhos dos teens não sumiam. Afinal, eram os ídolos da geração Z cantando ao vivo, a poucos metros de seus alcances. Uma alegria estampada nos rostos da molecada que nenhum "crítico sabichão" poderá diminuir com suas observações sobre as falhas técnicas.
Para entender melhor o impacto zero dos escorregões dos artistas sobre a euforia da criançada, basta compararmos esta situação com o universo de "gente grande". Ir a um show destes artistas, para os teens, significa o mesmo que assistir a uma partida de futebol. Ou seja, na vitória ou na derrota, na conquista ou no rebaixamento, sua devoção será sempre mantida e você não "virará a casaca" quando se decepcionar.
Voltando a falar sobre o festival, valem os registros de algumas observações deste repórter, que muitas vezes deixou de prestar atenção nos rodopios e gracejos dos artistas para observar o público. Vamos a eles:
1. Lágrimas: a princípio soa como patético, mas depois é possível compreender boa parte dos motivos dos choros. Quem já "adulteceu", certamente lembra do artista que representava a perfeição em sua época e se imaginar próximo a ele era motivo de calafrios. Seja a Xuxa, as Spice Girls, os Menudos, ou quaisquer outros, cada geração teve seu ícone. Os nomes desta noite pertencem à Z. Não há motivos para censurar uma criança emocionada diante de seu ídolo, por mais que suas músicas não lhe façam o menor sentido.
2. "Ser mãe é padecer no paraíso": mães, pais, irmãos mais velhos, tios, primos... Todos os menores de 13 anos tiveram que contar com a companhia de um maior responsável. E ali estava o batalhão de gente grande, vigiando as crias de perto e muitas vezes se emocionando com a alegria dos rebentos. Pessoas que jamais comprariam espontaneamente um ingresso para este tipo de evento acompanharam de perto a folia das crianças.
3. Inglês: os pais que pagam cursos de idiomas saíram do local, no mínimo, satisfeitos. Afinal, o coro de vozes nos refrões dos hits, todos em inglês, mostrou que a meninada estava com as letras na ponta da língua.
4. Amor excessivo: na adolescência, os sentimentos são mais intensos. Todos os artistas gringos ouviram "eu te amo" em coro teen, acompanhados de gritinhos, lágrimas, pulos ou quaisquer outras manifestações que lhe vinham à mente. Era a forma de tentar chamar a atenção do ídolo, mesmo sendo impossível ser reconhecido no meio da multidão.
5. Disposição: os portões foram abertos às 15h e o último show terminou às 0h30 de domingo (30). Foram quase 10 horas em pé, dançando e cantando. Sem contar a temperatura, que chegou a 12ºC. Mesmo assim, houve quem vestisse roupas de verão, como saias, bermudas e tops. A euforia era tão grande que não havia espaço para cansaço ou frio.
Não foi legal
Havia um senso de camaradagem no local. Pais se revezavam no cuidado dos filhos, alguns apoiavam os pequenos sobre os ombros para que pudessem ver melhor o palco, mas logo os colocavam novamente no chão para não atrapalhar a visão de quem estivesse atrás.
Durante o show de Demi Lovato, uma mulher fugiu à regra e por pouco não sofreu com a ira dos adolescentes. Ela pegou um dos latões de lixo, levou para a frente e colocou suas três meninas sobre a peça. Muitos reclamaram em vão. Pedidos educados não foram atendidos. A adulta ainda xingou e ameaçou de bater em quem reclamasse. Toda a valentia acabou quando um segurança do evento se posicionou e obrigou a descida das crianças do objeto. A mulher sequer questionou.
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