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Em entrevista, ele fala sobre o papel de um adulto que vive grudado com um urso
Mark Wahlberg conversa com a reportagem de dentro de uma limo que corre numa highway de Los Angeles. Ele está indo para o set do novo filme com Denzel Washington. Não poupa elogios ao colega - “É um dos caras mais profissionais que já conheci, e íntegro, mas tem um humor que não sei se passa para quem só o conhece da tela”. O assunto é “Ted”, a comédia de Seth MacFarlane que estreia nesta sexta-feira. Um marmanjo que não desgruda do seu ursinho de pelúcia, que adquiriu vida e fala com ele pela vida afora. Que raio de filme é esse?
Agência Estado — Vou lhe confessar que não coloquei fé na história, quando descobri do que tratava o filme. Como você entrou nessa?
Mark Wahlberg — Estou sempre procurando novos materiais, para produzir e interpretar, porque um dos problemas de construir uma imagem, como ator, é que você recebe sempre mais do mesmo. Não quero ficar me repetindo, a menos que tenha compensações, como um diretor com quem quero trabalhar, ou um ator com quem também desejo contracenar. Tive a mesma sensação quando comecei a ler o roteiro. What a fuck? Mas o roteiro foi suficientemente intrigante para que eu encontrasse Seth (MacFarlane). Quando me explicou o que estava pretendendo com aquele material, Seth me convenceu de que o filme era a coisa certa para eu fazer.
AE — E o que ele disse para seduzi-lo para o seu conto de fadas adulto?
Wahlberg— Ele me disse que era um pouco isso. A subversão de um conto de fadas infantil para expor uma sociedade de homens infantilizados, em que é mais importante causar do que ser. Seth é único. Ator, animador, roteirista. E dublador, o que significa que, quando você conversa com ele, Seth faz todas as vozes do filme, de tal forma que você termina tendo um quadro bastante amplo sobre suas intenções. Se você prestar atenção em sua produção de TV, vai ver que a família está sempre em discussão.
AE — O menino rejeitado que faz um pedido de Natal, o começo é clássico, não?
Wahlberg — É singelo, e creio que o tom é muito importante porque prepara o espectador para alguma coisa da qual será desviado. A melhor coisa de Ted é que não vira apenas o alter ego do meu personagem. Ele aciona o melhor e o pior de John. Ted subverte o conceito do ursinho de pelúcia carinhoso. Ele sabe ser escroto e por isso usamos sua imagem, comigo, no pôster, ambos no mictório. Se você acompanha a produção norte-americana, sabe que existe toda uma nova geração de autores interessada em discutir esse personagem extremo, que é o macho infantil. Judd Apatow virou o John Hughes dessa geração porque tem feeling e sensibilidade para entender e expressar seus problemas. Seth também tem e cria cenas que parecem absurdas, como quando Ted e John discutem sobre a vida sentados no sofá. O homem adulto é mais criança que o urso, e isso se reflete, claro, na sua relação com a mulher.
AE —Imagino que devesse ser divertido para Mila Kunis e você fazerem essas cenas com o urso. Sim ou não?
Wahlberg — A dinâmica de fazer um filme implica certos procedimentos. Ted é produto da animatronics. Muitas vezes ele nem está em cena. Você se questiona - o que estou fazendo aqui, hipoteticamente conversando com um urso? Mila é fantástica. Ela ama John, sofre com a concorrência de Ted, mas é maternal e no final é o seu desejo realizado que redireciona a narrativa.
AE —Mas deve ter sido divertido colocar um machão como Ryan Reynolds na pele de gay que sai do armário. Como ele aceitou o papel?
Wahlberg — Pelo mesmo motivo que eu, pelo desejo de trabalhar com Seth. O cinema mudou muito para que você fique atrelado a uma imagem. Hoje em dia ninguém sobrevive sem humor. Ryan é um amigo e, sim, rimos bastante quando ele sai do armário Isso faz parte do subtexto do filme. Estamos falando o tempo todo de identidade, de autoaceitação. Isso inclui tolerância.
AE —E por que exumar o ator Sam J. Jones, que foi o Flash Gordon de 1980?
Wahlberg — Essa foi uma das melhores sacadas de Seth. O filme pode ter sido um fracasso na época, mas adquiriu a reputação de cult com o tempo. Existem filmes adultos de super-heróis, mas na maioria dos casos são produções infantilizadas, para consumir com pipoca e refrigerante. Sam foi marcado pelo papel. Numa história de superação, é ótimo que ele próprio ganhe sobrevida. E Sam é muito engraçado. Acho que foi quem mais se divertiu nessa história toda.
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24/09/2012
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